sexta-feira, 19 de julho de 2013

Minha Primeira Maratona: Uma Viagem de Autoconhecimento - Por Valeria Spakauskas


Por Valeria Spakauskas

No ano passado, quando fui pro Rio, fazer minha Meia Maratona, na hora de pegar o kit, verde, eu olhei as pessoas que fariam a Maratona e pensei, um dia, quero voltar aqui e pegar esse kit laranja...
Um ano depois, exatamente, estava na fila da Maratona!

Um misto de emoção, medo e ansiedade. Afinal, estrearia nos tão temíveis e desejáveis 42.195... O calor já estava se mostrando. Abafado... Meu maior medo era o clima, e não a distância. Sabia que num clima tranquilo eu iria bem, mas o inverno do Rio é sempre uma surpresa.

No dia da Maratona, pra variar, o taxista me deixou na mão, como no ano passado!! Odeio taxistas Cariocas!!!! Tive que correr atrás de uma carona, às 5:15 da matina, mas, como Deus existe e é paulista, consegui um lugar, o último, numa van de corredores, no meu hotel. Fui rindo até o recreio, com a história desse grupo de amigos do interior paulista.

Cheguei, encontrei minha parceira e irmã de treino, e de vida, Silvana Paiva! Estava em casa! Encontrei também o Daniel Xavier, até então um amigão virtual, e também , William Graça, um campeão das pistas de Presidente prudente.

O Daniel correu com a gente por um tempo e nos filmou! Me deu esse VÍDEO de presente... Nem tenho palavras para descrever o carinho!!

A sorte estava lançada! Coração a mil... Uma oração antes do primeiro passo e bora, pra nossa medalha.

Comecei a correr em ritmo mais lento que de costume, por orientação do meu treinador, Gustavo Neves Abade, e do Mestre Branca... “Vá com calma, não queime o cartucho antes dos 21... Não quero ninguém se matando nessa prova, quero vocês sorrindo e se divertindo”. E assim eu fui...

Mas sabia que seria mais difícil que nos treinos. A  largada foi às 7:30, o sol estava forte...calor, umidade... Medo...
Fomos no nosso passo, sem nos preocuparmos com o tempo do relógio. Eu já estava me sentindo meio cansada antes de completar os 21, a cabeça começou a me desanimar, olhava aquela reta e pensava, putz, nem cheguei na metade ainda...

Eu senti desânimo, porque retas me desanimam. Senti tédio... Mas ao mesmo tempo, me sentia grande, estava na Maratona, um caminho de poucos, e eu estava lá! Tive meus momentos de fraqueza, pensei se realmente chegaria até o fim, mas não por dor ou cansaço, as pernas estavam bem, mas era um pensamento.

Identifiquei um sabotador!!!  OK!!! Vamos jogar com ele...

Fui conversando com a Sil e comigo, “enrolando” a cada km, até a ideia de desistir, passar.
Perto do Juá, o viaduto, vi uma mulher caída no chão, gritando de dor, se contorcendo, em cãimbras. Parei pra ajudar, fiz massagem, conversei com ela, Tânia, até a ambulância chegar (cheia!). Não sei quantos minutos fiquei com ela ali, mas não poderia deixá-la sozinha...

Quando vivi essa cena, eu senti uma certeza muito grande no meu coração: eu estava muito bem treinada e não passaria por aquilo. Fui me lembrando dos treinos longos e intermináveis, nas dores que eu sentia depois, na fome, na sede, no cansaço, na frustração, na alegria...

Eu fiz toda a planilha, não furei um longão, me hidratei, não bebi, descansei, comi massas... Fiz
tudo exatamente como me foi recomendado!

Eu entendi o que falavam sobre a Maratona, que a gente nunca termina como começou...
Foi uma viagem de autoconhecimento, realmente. Me peguei rezando em alguns trechos, mas
rezando sem desespero, em estado de graça. Eu estava feliz!!! E o mais interessante, foi que corri sem música... Esqueci de ligar o Ipod... Era eu e Eu...

Sinto que passei por todas as emoções, de raiva até alegria pura. Cada km, um sentimento a ser vencido e conquistado.

Chegando aos 26 tenho a visão mais bacana da prova toda, meu treinador,Gustavo, um cara prá lá de especial, estava ali, esperando a gente chegar! Estava em casa! E fomos juntos, os três, às vezes cinco ou dez, pois o Gustavo puxava todo mundo!!!

Em Ipanema, outra visão, a mais linda de todas, foi ver a Aline e o Chico, me esperando com água gelada! Alí, eu achei que fosse desmoronar!! Foco, Val, foco!!

Quando chegamos nos 35, o Gustavo falou: Garotas, daqui pra frente, é tudo conquista pessoal. Até aqui, vocês conheciam, agora, é vitória!
Ahhh, só estando lá pra sentir essa emoção... 36, 37, 38.. 40!!! O coração tranquilo e ao mesmo tempo, explodindo dentro de mim! Faltava tão pouco... Seis meses de treinamento e estava ali, tão pertinho...
No 41, o Gustavo se despediu da gente e foi pra grama. Mais pra frente, ele se juntou com a nossa
equipe, que estava ali, esperando a gente chegar!!! Eduardo e Monica, Ziel, Patricia Abad, Renato Spakauskas... E o Maridão Francisco Brocco e minha Filha Aline... achei que fosse cair
quando ouvi os gritos e os aplausos!!! O mundo passa na cabeça da gente. Eu não via a hora de
terminar, jurava que nunca mais iria fazer outra Maratona na vida, só queria chegar...

Estava mais cansada mentalmente do que fisicamente. Foi uma luta mental, porque o corpo meio que se
recusa a continuar e você tem que tomar as rédeas. A gente usa toda a força que tem. É muito mágico isso. Um lado seu acha que não vai dar conta e o outro te empurra pra chegada!!

Sou uma Yogini, e ouvia, bem no fundo da minha cabeça, meus mantras preferidos... Nesse momento, entendi o Caminho Espiritual de uma Maratona. Eu estava cansada, mas estava em Paz, em sintonia com o Divino.

Acho que o último km foi o mais lento, o mais sofrido e o mais maravilhoso. Minha amiga, Tati Moretti ,nos esperava para cruzarmos a chegada juntas, as Três Ipirunners!!
Confesso que ao cruzar a chegada, achei que fosse me desmanchar em lágrimas, mas estava
além do choro. Estava em Nirvana!!!!
Sem palavras... garganta travada de emoção


Equipe de ouro!!!!!

A ficha não cai na hora que você coloca a medalha, porque o corpo e a mente estão exaustos. À noite, jantando com amigos da equipe Branca, o Eduardo Sano me falou, ao fazer um brinde minha medalha: "Val, você tem noção do que vc realizou hoje??? Você entrou para um seleto grupo de vencedores!!! Parabéns, não é pra qualquer um!!!"
Maridão emoldurou pra mim!!
E assim, uma semana depois, eu ainda estranho quando me chamam de Maratonista!!! Ainda estou metabolizando tudo isso...
Sou uma Maratonista!!!
Quanto à minha promessa de nunca mais fazer uma Maratona, eu digo que estou inscrita na Disney, 2014 e que em outubro começa a insanidade, tudo de novo!!!

Tá com medo??? Por que veio?????????????

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4 comentários:

  1. Show !!! Parabéns.

    Att.,
    Felippe Diniz

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  2. Valeria, parabéns!

    Esses dias estava pensado nisso: uma maratona não é nada do outro mundo, e é uma coisa acessível a qualquer pessoa que tenha a saúde. Só que, poucos tem a coragem e determinação de encarar. Qdp passei mal depois da prova ano passado, o médico me disse: "Vc acha que vale mesmo a pena se submeter a isso?". Respondi: "foi só essa vez...". e lá estava eu novamente. Enquanto for possível (minha saúde permitir), quero continuar me aventurando nos 42. Mas como Vc pôde ver pessoalmente, as dores não deixaram dessa vez.

    Qto ao taxistas, com os cariocas tenho sorte, rsss.

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  3. Daniel parabéns por disponilizar a experiencia da Valeria aqui no Blog, pois conheci ela aqui no Rio grande Maratonista...Valéria parabéns pelo feito que venham novos desafios...Bom já que correu dezenas de provas pequenas, meias maratonas e agora acabou de concluir a Maratona, que agora venha as Ultras mulher...rsss..Parabéns...

    Bons treinos,

    Jorge Cerqueira
    www.jmaratona.com

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